terça-feira, 31 de agosto de 2010

silêncio ensurdecedor



ela sussurra, tenta falar e não consegue. continua a sussurrar, quer gritar, mas a voz desapareceu. agarra a garganta num movimento descontrolado, a voz tem de voltar. - tenho que sair daqui - pensa ela - tenho de sair daqui! começa a debater-se no silêncio, na escuridão que a envolve. o silêncio fere-lhe os ouvidos, penetra-lhe na mente. - preciso de sair daqui, preciso de sair daqui. de repente ouve algo. há algo que se mexe nas sombras. agora não quer falar, agora não pode falar. há algo que se aproxima. neste momento, ela pode ouvir o som do seu próprio coração, o seu sangue correr nas veias apressadamente, mais rápido que nunca. algo lhe toca no pé. de repente a sua voz volta, o grito rompe o silêncio e ela grita, grita como nunca. grita como se fosse disso que a sua vida dependesse. calma, não te vou magoar - uma voz assusta-a a ponto de a deixar petrificada. agora já não tens nada a perder - pensa ela - já perdeste tudo! deixa a realidade, refugia-se num mundo só dela. um mundo em que nada é assim, ninguém faz sofrer os outros ao ponto de deixar marcas insaráveis. um mundo em que o arco-íris não acaba, e a dor não existe. um mundo onde a felicidade é eterna e nada a pode cessar. passado algum tempo, acorda desse sonho. minutos, horas, dias depois? já não sabe há quanto tempo se encontra ali, mas não se consegue mexer, não se consegue fazer ouvir. fecha os olhos novamente com a esperança de aparecer alguém. ela não pode fazer nada. nunca mais nada vai ser igual. roubaram-lhe a vida.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

abraço a mentira


num dia igual a tantos outros, acordo, levanto-me da cama e começo a arranjar-me. olho-me ao espelho e já nem me reconheço. a artificialidade da maquilhagem e do cabelo, não basta para não me sentir eu. quero mais, quero modificar tudo. quero ser outra pessoa. estou farta de ser eu, farta de ser como sou, física e mentalmente. ficar quase irreconhecível. é a única coisa que quero neste momento. saio de casa e vou ter com mais um de tantos outros supostos amigos, dizem ter saudades, dizem gostar de mim. quero dizer-lhes para me deixarem em paz, para pararem de dizer aquelas coisas, mas não consigo. é mais forte que eu! algo me diz que tenho que concordar com eles, que tenho que dizer 'eu também'. algo me diz que se eles quiserem vir ter comigo, eu tenho de ir. nesses (longos) dias, vou ter com as pessoas, e quando chega a hora de irem (finalmente) embora, fico mesmo contente. serei assim tão má pessoa? não sei o que se passa. acho que não ia gostar sequer de saber a razão. depois abraçam-me. abraçam-me forte, demoradamente. estou envolta num abraço de mentiras. um abraço que para mim não é nada senão um grito no silêncio que pede para me largarem. mas não reclamo. remeto-me ao silêncio até que por fim acabe. vou para casa, e começa tudo novamente.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

doze de agosto

começou com o nosso comboio a ir embora. a abandonar a estação mesmo diante dos nossos olhos. ficámos tão chateados, pois queríamos estar no porto o mais depressa possível! mas umas três horas depois, lá estávamos nós. saí do comboio e foi instantâneo. olhei e lá estavas tu! recebeste-me com aquele teu abraço tão especial, ao qual já eu me habituei tão bem. são estes momentos de reencontro que me fazem feliz, saber que estás lá quando eu chego, lá quando me vou embora. saber que estás sempre lá. e tal como sempre, os momentos contigo são perfeitos e passam depressa demais. e acabam por chegar ao fim. na hora de voltar para casa, não estava feliz. muito pelo contrário. fiquei tão triste, juro que só me apetecia chorar. saber que só te posso ter de tempos a tempos, saber que passam semanas, às vezes meses sem te ver, parte-me o coração. parte mesmo. doí tanto! agarraste-me na mão e eu não queria largar. não queria largar nunca mais. "eu juro que te amo", foi a única coisa que te consegui dizer. só pensava que quando saísses, eu ia ficar novamente sozinha. como sempre. sempre que não te tenho fico sozinha. posso estar rodeada de pessoas, rodeada de milhões de pessoas, continuo a sentir-me só. sinto-me completamente perdida, nem eu própria me consigo encontrar. mas penso nos nossos momentos e tento afastar os espíritos que me atormentam quando não estás. porque estiveste comigo, e eu estava feliz! realmente feliz. coisa que não acontece nunca, apenas contigo. agora, de regresso a casa, fecho os olhos e revejo as caras de hoje, que lentamente vão passando na minha cabeça. foi um dos melhores dias contigo! e eu quero que todos os meus dias sejam contigo. preciso de ti todos os dias, a toda a hora. és a luz do meu dia, a força que me faz acordar e enfrentar mais um de tantos outros dias.
és a minha vida, literalmente.

"eu juro que te amo", meu mundo!